Viver com Transtorno Bipolar: Quando o Mundo Não Vê o Peso que Eu Carrego
Viver com transtorno bipolar não é simples — e quase ninguém entende de verdade o que acontece dentro de mim. As pessoas costumam associar a bipolaridade a mudanças rápidas de humor, como se fosse só uma oscilação entre alegria e tristeza. Mas não é bem assim. É muito mais profundo, mais cansativo e, muitas vezes, silencioso.
Eu me sinto constantemente exausta. E não é o tipo de cansaço que melhora com uma boa noite de sono. É um desgaste interno, como se minha mente estivesse sempre lutando para se manter funcionando. Tem dias em que o simples ato de sair da cama parece uma maratona. Em outros, começo algo empolgada — uma ideia, um projeto, um plano — mas, de repente, aquela energia some. O entusiasmo que parecia tão verdadeiro no início vira uma lembrança distante, como se não tivesse sido real.
É frustrante.
Às vezes me sinto culpada por não conseguir continuar algo que eu mesma desejei. Já me questionei várias vezes: “Por que eu sou assim? Por que eu não consigo manter o foco? Por que tudo parece tão pesado, mesmo quando está tudo ‘bem’ lá fora?”
Na fase depressiva, o mundo perde a cor. As coisas que antes me faziam sorrir perdem o sentido. E não é por falta de gratidão, nem por drama. É como se algo dentro de mim desligasse — e não adianta forçar, fingir ou ouvir frases como “vai passar” ou “você precisa reagir”. Quem dera fosse assim tão simples.
Por outro lado, quando estou em uma fase mais agitada, parece que meu cérebro não para. As ideias vêm rápido demais, o sono desaparece, e, por um momento, me sinto invencível. Mas isso também me assusta. Porque já aprendi, da forma mais dura, que o tombo vem depois. E é alto.
Ainda existe muito preconceito. Muita gente pensa que pessoas com transtorno bipolar são “instáveis”, “difíceis”, “complicadas”. Eu sou uma pessoa, antes de tudo. Com sonhos, vontades, medos. Com dias bons e ruins — como qualquer outra. Mas com o acréscimo de um transtorno que exige de mim uma força constante, mesmo quando eu mesma não tenho energia.
Queria que as pessoas entendessem que o que eu sinto não é frescura, não é preguiça, não é falta de força de vontade. É um transtorno real, que impacta a minha vida todos os dias, mesmo quando não parece visível.
Mas também quero deixar claro que, apesar de tudo, eu sigo tentando. Cada dia é um novo começo. Às vezes eu me levanto devagar, às vezes eu não consigo levantar. Mas quando consigo, celebro em silêncio. Porque sei que, pra mim, isso já é uma vitória.
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